As doenças cerebrovasculares, ou acidentes vasculares cerebrais (AVCs), são alterações transitórias ou definitivas de áreas encefálicas provocadas por isquemia, sangramento ou algum processo patológico de um ou mais vasos encefálicos. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde e últimos indicadores (DATASUS), o acidente vascular cerebral apresentou a maior taxa de mortalidade em relação às outras doenças.
De acordo com a classificação usualmente utilizada, há dois tipos de AVC, o isquêmico (AVCI) e o hemorrágico (AVCH), sendo cerca de 80% do primeiro tipo e 20% do segundo. De maneira geral, a apresentação clínica, incluindo sinais e sintomas dos AVCs, está associada a quadro súbito, e os demais sintomas dependem da extensão, tipo, localização e lateralidade da lesão.
A prevalência de alterações cognitivas após AVCI varia entre 10 a 82%, dependendo do critério utilizado para se definir alteração cognitiva, idade do paciente, período pós AVCI e presença de comorbidades (Donovan et al., 2008). Tais alterações dependem principalmente da localização e da extensão da lesão, bem como do hemisfério cerebral comprometido.
Historicamente, estudos focados na cognição após AVC tinham como objetivo investigar a progressão das alterações cognitivas para quadros demenciais, considerando-se a relação entre aumento de lesões, passagem de tempo e demência vascular (DV). Recentemente, o foco das investigações tem se expandido para os quadros agudos de AVC, fatores preditivos e alterações sutis associadas aos AVCs.
O termo comprometimento cognitivo vascular (CCV) tem sido utilizado para as diversas manifestações das doenças cerebrovasculares associadas a comprometimentos cognitivos. Pacientes com lesões isquêmicas apresentam risco elevado de desenvolver CCV, que pode abranger o declínio leve de uma ou mais funções cognitivas isoladas, além de risco para desenvolvimento de DV ou outras demências associadas.
Os processos neurobiológicos subjacentes ao comprometimento cognitivo leve e a possibilidade de melhora tardia ou não desses comprometimentos estão associados a: idade (quanto maior a idade, maior a prevalência de alterações cognitivas pós-AVCI); escolaridade (quanto mais baixa, pior o prognóstico); extensão, localização e recorrência do AVCI; extensão de lesões na substância branca; comorbidades ou doenças prévias, tais como diabetes melito, infarto do miocárdio, fibrilação arterial e pneumonia (Cherubini e Senin, 2003).
As alterações cognitivas pós-AVC associadas à atenção sustentada, velocidade de processamento de informações, praxias, memória e alterações comportamentais podem ser preditivas de pior prognóstico funcional, de acordo com alguns estudos.